Agricultores gaúchos com altas produtividades na lavoura afirmam que o segredo para encher o caminhão de grãos é cuidar bem do solo. Tecnologias de precisão, genética e tudo o mais são “acessórios”. Nesta quinta-feira (20/10), em Cruz Alta, eles apresentaram suas experiências bem-sucedidas no Noroeste gaúcho com o sistema de plantio direto, dando ênfase à rotação de culturas. O assunto atraiu a atenção de dezenas de pessoas, que lotaram o auditório do Pavilhão da Agricultura Familiar, no parque Integrado de Exposições, em Cruz Alta, onde transcorre até domingo (23/10), a Feira Nacional do Trigo (Fenatrigo).

O evento foi promovido pela 13ª Fenatrigo, Emater/RS-Ascar, CCGL TEC, Universidade de Cruz Alta (Unicruz), com apoio da Fepagro Sementes e Governo do Estado, por meio do Programa Estadual de Conservação de Solo e Água do RS.

O governador José Ivo Sartori, em viagem à Europa, fez-se representar no evento pelo presidente da Emater/RS, Clair Kuhn. “O Estado precisa muito desta locomotiva que se chama agropecuária. Mais de 46% do nosso PIB (Produto Interno Bruto) depende desse segmento”, disse Kuhn.

O agricultor e engenheiro agrônomo Edi Verner Jann, um dos palestrantes do fórum, disse que agricultura sustentável é aquela que tem o foco no manejo. “O principal é mexer com a base e a base é a matéria orgânica. Se eu quiser ter sustentabilidade na agricultura tenho que ter bastante palha. Todas as demais tecnologias são acessórias”, disse Jann.

Conhecido como o “rei da soja”, o agricultor e engenheiro agrônomo Vanderlei Neu, viu sua lavoura, no interior de Quinze de Novembro, produzir 102,7 sacas por hectare. Performance que lhe rendeu este ano a mais alta produtividade do Rio Grande do Sul e o troféu concedido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb).

Neu apontou o caminho. “Tenho um trabalho na propriedade que eu chamo de verdadeiro sistema de plantio direto na palha, ou seja eu faço um sistema em que eu planto no verão soja e milho, com cultura de cobertura (nabo forrageiro). No inverno, geralmente planto aveia preta e trigo”, disse Neu.

O “rei da soja” gaúcho disse ainda que obtém mais receita plantando milho do que  soja. “Fora os benefícios que o milho traz em palha”, comparou.

“A palha é o verdadeiro alicerce da produção. Nossa precisão na agricultura é a palha. A palha é o óbvio, não podemos esquecer disso”, disse outro agricultor e engenheiro agrônomo, também palestrante, Cláudio Macagnan.

Macagnan enfatizou a importância do Clube Amigos da Terra de Cruz Alta, criado em 1987, do qual ele faz parte, e da Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação (FEBRAPDP), em 1992, que ajudaram a alçar o plantio direto na palha ao patamar de maior evento tecnológico do século XX, segundo Macagnan.

Desafios

O engenheiro agrônomo da CCGL TEC, José Ruedell, apontou desafios ao manejo do solo e água. “Hoje vemos problema de conservação de solo dentro do plantio direto, por isso temos que retomar as premissas básicas, os fundamentos que qualificaram o sistema. Temos que achar novos caminhos, novas trilhas para o sistema em função de tudo o que está acontecendo hoje, um cenário diferente, mercado, produtos agrícolas envolvidos no processo. Então, temos que fazer, com nossa criatividade, mudanças nesse sistema, retomar e qualificar”, disse Ruedell.

 Política pública

De acordo com Ruedell, o Governo gaúcho “está no caminho certo”. Em dezembro de 2015, o Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado brasileiro a instituir Política Estadual de Conservação do Solo e da Água. “É um investimento, vai retornar para a economia. Não há dinheiro melhor investido que esse”, disse Ruedell.

Também presente no Fórum, o coordenador da Emater/RS-Ascar no Programa Estadual de Conservação do Solo e da Água, engenheiro agrônomo Edemar Streck, antecipou novidades. “O Programa vai fazer um concurso para premiar os agricultores”. O concurso, segundo Streck, será lançado oficialmente no dia 05 de dezembro, em Porto Alegre, por ocasião da Conferência Estadual de Conservação de Solo e Água. As inscrições do concurso, de acordo com Streck, devem ser abertas em janeiro.

Encaminhamentos

Mediador do Fórum, o gerente da Emater/RS-Ascar da região administrativa de Ijuí, Carlos Turra, acolheu, ao final do encontro, sugestões da plateia. Entre elas, a realização de três dias de campo, em 2017, em propriedades rurais  onde estão em andamento sistemas de produção que preservam o solo e a água.